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segunda-feira, abril 30, 2007

A modernidade é nossa antigüidade?

Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: A primeira de três publicações sobre a 'documenta' 12

A "documenta" 12 divulga sua concepção na primeira de três revistas que precedem a exposição de Kassel. E indaga qual o papel da modernidade na arte contemporânea.
A 12ª edição da documenta de Kassel começa em meados de junho. Mas os princípios teóricos que norteiam a mais renomada mostra internacional de arte contemporânea já começaram a ser debatidos numa rede de órgãos de mídia selecionados em todo o mundo. No Brasil, a documenta é representada pelos sites Revista Trópico, Canal Contemporâneo e Rizoma.
O debate em torno da mostra de arte realizada de cinco em cinco anos foi lançado em três questões: A modernidade é nossa antigüidade? O que é a vida nua? O que deve ser feito (educação)? A idéia é reunir uma amostra das reflexões publicadas em diversos continentes em três revistas a serem lançadas antes da inauguração da exposição em Kassel, em 16 de junho.
A iniciativa de tornar a exposição parte de um discurso mais amplo sobre o papel da arte no mundo contemporâneo talvez seja o que singularize a documenta. Na edição anterior do evento, realizada em 2002 sob direção artística do nigeriano Onkwui Enwezor, a mostra em Kassel foi tratada como a última de cinco plataformas de um debate internacional marcado por reflexões em torno do pós-colonialismo.
O moderno descentrado
A primeira das três revistas da documenta, lançada em Viena no final de fevereiro, indaga o que restou da modernidade no mundo contemporâneo. Os movimentos modernistas das décadas de 60 e 70 são abordados em sua especificidade local, o que acaba revelando aspectos do projeto moderno geralmente esquecidos pela historiografia euro-americana.
Entre os projetos modernistas de relevância histórica local, mencionam-se, por exemplo, a Nova Arte Vermelha polonesa, com seu jogo em torno dos símbolos do socialismo; a revista Souffles, editada no Marrocos nos anos 60, uma tentativa de estabelecer uma literatura de vanguarda após a independência do país, em 1956; a construção do edifício que sediou a terceira Conferência das Nações Unidas de Comércio e Desenvolvimento (Unctad III), em Santiago do Chile, em 1971/72, celebrada como concretização do ideal socialista de unir artistas e operários num projeto coletivo, entre outros.
A abordagem dos desvios pelos quais a arte moderna passou em sua internacionalização desmascara exclusões na historiografia eurocêntrica. As contribuições africanas à revista denunciam o silêncio em relação a este continente como legitimação do domínio pós-colonial. Um testemunho da China aponta que as teorias ocidentais não dão conta dos pressupostos da arte moderna chinesa surgida na década de 80 e rapidamente assimilada pelo mercado internacional.
Genealogia do contemporâneo
Mas não se trata apenas de denunciar. A compreensão dos vínculos sociopolíticos regionais do projeto moderno permite entender melhor o que se produz hoje. Pelo menos esta é a convicção do diretor artístico da documenta, Roger M. Buergel. Apesar de ter mantido até agora em sigilo a lista dos artistas a serem expostos em Kassel até 23 de setembro, ele já mostrou que a contextualização histórica da arte contemporânea é uma prioridade desta documenta.
Com isso, Buergel retoma a noção de "retroperspectiva" de Catherine David, que concebeu a documenta 10 – a última do século 20 – como uma iniciativa de "lançar um olhar crítico sobre a história, sobre o passado recente do pós-guerra, sobre aquilo que preocupa a cultura e a arte contemporânea".
O que parece singularizar a concepção desta documenta, no entanto, é a pretensão de esboçar uma genealogia descentrada do contemporâneo, ao que tudo indica mais histórica e mais linear que a retroperspectiva de Catherine David. "Arte contemporânea só se entende quando se sabe de onde ela vem. Só então dá para intuir para onde ela vai", declarou Buergel recentemente à imprensa alemã, anunciando que a proporção entre passado e presente na mostra de Kassel será de um terço para dois terços e a obra mais antiga da exposição provém do século 14.
Educação estética do contemporâneo
"A documenta é um mito alemão de educação. Ela é visitada por pessoas que, no mais, nunca vêem arte contemporânea. Os visitantes precisam de fato da idéia de que a arte contemporânea não se dirige apenas a um público especializado, mas trabalha com questões que tocam a todos", explica Buergel, justificando a necessidade de traçar a genealogia do presente.
Ele parte do pressuposto de que ainda há muita resistência contra a arte moderna. Ao apontar relações até então incompreendidas, ele espera liberar no público "energias a serem transformadas".

Simone de Mello

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