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segunda-feira, dezembro 03, 2007

ENTREVISTA MINHA FEITA POR CALINA BISPO PARA O JORNAL A UNIÃO

Jornal A União
Destaque
“As artes plásticas estão relegadas na Paraíba”



01 de dezembro de 2007
Pintor, desenhista, gravador, escultor e designer. Fred Svendsen iniciou sua carreira como ilustrador do suplemento literário Correio das Artes. Seguidos dos suplementos Tudo do Diário da Borburema - Campina Grande, Oficina Literária e Aguardente Rio de Janeiro, revista Íris-Foto Cine Som, Tribuna da Imprensa Rio de Janeiro, Antologia Carro de Boi, revista de Educação e Cultura Festival de Arte de Areia, e o livro Sociedade Paraibana 2001.
Nessa entrevista exclusiva, conversamos com Fred sobre os caminhos das artes plásticas paraibanas, seus pontos nevrálgicos, a relação da arte com o academicismo, público, institucionalização da obra e do artista. Logo de início, Svendsen afirma que a arte paraibana está em seu pior momento e mais na frente polemiza com a academia ao colocá-la como um transmissor de idéias recorrentes e esgotadas.

Como você caracteriza hoje, as artes visuais da Paraíba?

Nós estamos na pior fase de nossa história, mas a culpa é nossa mesmo, porque cada artista se afastou um do outro pelos egos não poderem conviver.
O que leva você a fazer essa afirmação?

As artes plásticas da Paraíba sempre foram acostumadas a ser, senão a maior, mas uma das áreas das artes mais respeitadas e mais representativas da Paraíba. De uns oito anos para cá, está relegada a último plano.

O que se esgotou na arte paraibana que não precisa ser recorrente?

O que esgotou foi a idéia de que a Paraíba era um estado fora do Brasil e do mundo. Hoje se sabe que aqui se tem acesso a tudo do mundo, e a Paraíba hoje, é mais conectada, com Londres e Berlim do que com o "Sul Maravilha". É muito comum hoje o paraibano passar pelo Sul voando para Paris, Berlim, EUA, Portugal, enfim, para toda Europa.
E o meio, também influencia estes artistas atuais?
Sim, mas nós não temos meio, nós temos é um amontoado de artistas trabalhando individualmente.

Você pretende levantar alguma polêmica em torno disso?



Nenhuma, apenas não gostaria de ver trabalhos de artistas paraibanos sendo analisados sem uma prévia permissão. Estou vendo a hora chegar no meu, e isto não permito, pois quem está fazendo isto não tem condições para tal.

Quais reflexões você propõe?

Olha temos uma Universidade, que não nos serve! No mês passado fiz uma palestra na sala de um professor amigo meu e os alunos ficaram tão impressionados com minha presença, de tanto ouvir falar em mim e no meu trabalho, que no final da palestra todos me pediram autógrafo, como se eu fosse Roberto Carlos, isto só acontece porque a UFPB está muito distante de nós.
Cursos de história da arte e a própria academia formam público e artista, ou, você diria que são apenas transmissores de idéias recorrentes e esgotadas?

Recorrente e esgotadas, é isso mesmo! As pessoas que estão preparando estes jovens, hoje na sua maioria foram formadas neste mesmo sistema, falho.

Porque tanta variação terminológica para identificar um artista (plásticos, visuais,
gráficos...contemporâneos) ?

Artista é só um, o que ele desenvolve, é que acaba caindo nas terminologias dos que não sabem fazer nada. Estas pessoas foram inventadas para também inventar termos novos.
Na entrevista de Sérgio Lucena a Dyógenes Chaves na edição do Correio das Artes de setembro, Lucena afirma que o artista contemporâneo se encontra em pobre condição ao viver em função do desejo de ser útil e engajado no sistema produtivo, além de desejoso de ser consumido.

Você acha que essa conclusão é negativa?

Eu não vejo como uma conclusão negativa e sim romântica. Nós não podemos mais neste mundo de consumismo, ainda estar pensando romanticamente. Todo artista moderno hoje quando termina seu trabalho só pensa numa coisa, é transformar sua arte e seu trabalho em dinheiro para viver, e manter sua obra.
Como se dá, hoje, na Paraíba e no Brasil, esta relação entre as artes visuais e o público

consumidor – o colecionador (ou a ausência dele)?

Nós temos a melhor relação possível com o público, consumidor, e colecionador. Basta ver que as galerias da cidade não criaram públicos, os artistas sim. Dependendo do artista, a mostra dele atrai uma multidão na abertura, a minha por exemplo.
Em relação a instituição – acervo – artista. Que mecanismos são encontrados, ou não, nessa

relação institucional e mercadológica?

Olha não é de hoje que sabemos que o estado é riquíssimo em acervo dos seus artistas, o que não temos é lugar para abrigar este bem material e artístico.
Momentos de ruptura sempre existiram na história da arte mundial, a exemplo de movimentos como o cubismo, surrealismo e o dadaísmo – onde o principal objetivo era fazer arte pela arte. Mecanismos e características especificas à parte, você acredita que há uma ausência de

movimentos expressivos e genuinamente brasileiros hoje em dia?

Não. Hoje o Brasil está cheio de movimentos, as artes plásticas foi quem se afastou da mídia, por ser elitista, e se achar assim, e talvez por este motivo você está cansado de ver as televisões aberta do País, dar 2 horas de programa para uma mulher fazer um bolo, e as artes plásticas não têm nem 30 segundos, em mais nenhum veículo de comunicação nacional.

Há vanguarda brasileira?

A vanguarda brasileira hoje é confundida com arte contemporânea, que também os que cantam e decantam este termo não sabe nem o que é que está falando.

Por que, na Paraíba, a crítica é quase inexistente?

O que afasta a crítica da obra e do artista? Nós fomos acostumados aqui, sem uma chamada crítica de arte, para nortear os artistas, o que nós tínhamos eram jornalistas muito competentes por sinal que faziam este papel. De uns 15 anos para cá, é que temos alguns críticos, uns em condições de fazer grandes matérias, mas que estão calados, abrindo espaço para outros que também são críticos de arte, mas de arte é exatamente o que estes não entendem.

A obra tem por obrigação, procurar se comunicar com o público?

Não. Não podemos tirar a capacidade das pessoas em usar seu raciocínio para interpretar uma obra de arte como ele quer e entende. Cada um tem sua leitura, e a minha leitura não interessa a ninguém, e a minha será sempre diferente dos demais.


Calina Bispo


Repórter

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