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quarta-feira, maio 28, 2008

ENTREVISTA COM UNHANDEIJARA LISBOA

Unhandeijara Lisboa reclama sobre a vulgarização das artes e critica ensino da UFPB

O artista plástico pessoense Unhandeijara Lisboa, também conhecido como Nandi, criticou em entrevista à Série Depoimentos a Universidade Federal da Paraíba em relação à falta de incentivo e a pouca produção artística dentro da academia, afirmando que há alguns anos atrás a efervescência cultural se dava de forma mais perceptível. "Nos anos 70 a coisa funcionava melhor, a ebulição cultural era maior. Hoje em dia quase não se vê uma peça produzida pela UFPB, ou uma exposição de arte, por exemplo. Se você perguntar aos dirigentes universitários o que é o Clube da Gravura eles não vão saber responder", comentou Nandi. "A educação artística não é mais tratada com prioridade, hoje em dia os pais querem ensinar aos filhos português, matemática, física... Talvez isso tenha contribuído com esse 'abandono'". A Série Depoimentos consta na programação da I Bienal de Pequenos Formatos, que se encontra aberta na área de lazer do SESC Centro João Pessoa até o dia 31 deste mês. Nandi também ministra no evento uma oficina de Xilogravura.
Presidente do Clube da Gravura da Paraíba (que possui o título de Utilidade Pública Estadual) desde sua fundação, em 1984, Unhandeijara aproveitou para criticar a falta de apoio às artes plásticas pelas autoridades e responsáveis. "No Brasil, a política é totalmente partidária, e a arte deve ser desvinculada de processos políticos", comentou. "Os 'órgãos oficiais' de arte, que deveriam ter essa preocupação, são amadores, e existe a falta de apoio, de um espaço, de exposições... E tanto o poder público, como obrigação, e o poder privado que está inserido no meio deveriam apoiar mais", concluiu.
Ainda em relação à falta de incentivo aos artistas, Unhandeijara criticou o fato de que a maioria das exposições realizadas atualmente não produzem um catálogo de arte, prejudicando ainda mais o reconhecimento e a divulgação do trabalho. "No Casarão 34, por exemplo, de 100 exposições realizadas eles produzem no máximo 10 catálogos, e isso é péssimo, pois o artista ganha registro através deles. Muitas vezes as instituições preferem oferecer uma boca-livre e fingir que está tudo maravilhoso", afirmou.
Sobre as artes na Paraíba, ele admite que dentro do próprio estado não existe reconhecimento cultural aos artistas que deveriam ser ressaltados, e que muitas vezes tem um reconhecimento maior em outros estados ou até mesmo fora do país. "Eu considero Flávio Tavares um dos artistas mais completos, não só no Brasil, mas a nível nacional. Se ele fosse viver na Alemanha, França, ou em outro país, talvez tivesse uma notoriedade maior do que tem aqui", comentou. "Os artistas da terra não são valorizados. O projeto do Estação Ciência é uma coisa maravilhosa, mas o povo está pensando apenas na estrutura, no prédio. Quem vai tomar conta realmente, a Prefeitura? A UFPB? A Secretaria de Cultura do Estado?"
Além disso, um outro problema bastante ressaltado por ele é a vulgarização artística que tem ocorrido atualmente, fazendo uma crítica à falta de estudos sobre o mundo das artes e sobre como as pessoas lidam com a produção de quadros e gravuras, por exemplo. "Hoje em dia tem muita 'madame' fazendo algo que elas acreditam ser arte, sem estudo, sem noção do que realmente a arte representa", disse. "Arte não é enfeite de parede, arte é aquilo que nos faz pensar na obra e em muito mais do que isso".


Workshop de Xilogravura a cores na Bienal

Unhandeijara Lisboa estará realizando até sexta-feira, 30, um workshop de xilogravura a cores (técnica de gravura em relevo em que se utiliza madeira como base, e que possibilita a reprodução da imagem em folhas de papel, assemelhando-se a um carimbo), que integra a programação da I Bienal de Pequenos Formatos, realizada durante o mês de maio pelo Serviço Social do Comércio, através da unidade do SESC Centro João Pessoa.
O workshop, que pretende levar aos participantes noção e técnicas de realização de xilogravuras em cores, teve início nesta terça-feira, 27, e se encerra na sexta, 30. As aulas serão ministradas das 14h às 16h, na área de lazer da unidade do SESC Centro em João Pessoa, localizado à Rua Desembargador Souto Maior, 281, Centro, e as inscrições já se encontram encerradas.
A I Bienal de Pequenos Formatos está sendo realizada na unidade Centro e vai até o dia 30, com exposições de gravuras, desenhos, fotografias e esculturas, além da realização de oficinas, workshops, palestras e entrevistas, ministradas pelos mais diversos nomes das artes na Paraíba.Unhandeijara aproveitou a oportunidade para exaltar o projeto: "O que esses meninos estão fazendo aqui – disse, apontando para seus alunos no workshop – é um milagre. Um evento desse porte poderia e deveria ter reconhecimento até mesmo nacional".

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