GRUPOKABRA

Total de visualizações de página

sexta-feira, maio 09, 2008

ENTREVISTA DE CALINA BISPO COM FRED SVENDSEN

Aproveitando que estamos comemorando o Dia dos Artistas Plásticos (8 de maio), dia esse, inclusive, que é marcado pela abertura de mais um Salão Municipal de Artes Plásticas, resgato aqui uma entrevista que fiz, por email, com Fred Svendsen, em outubro de 2007.
A entrevista nunca foi publica neste formato ping pong. Á época foi lançada como matéria como foco em uma exposição que o artista estava participando. Então, o que será lido a seguir, é inédito! Antes de qualquer coisa, para os desavisados e não acostumados ao "mundo" das artes plásticas paraibanas, farei uma breve (breve mesmo) apresentação deste artista entrevistado.
Fred é um multimídia. Pintor, desenhista, gravador, escultor e designer, ele iniciou sua carreira como ilustrador do suplemento literário Correio das Artes. Daí pra frente seguiu pelo jornalismo paraibano e brasileiro, estando presente em importantes suplementos – isso significa aqueles que investiam nas artes gráficas feitas pelos artistas plásticos, não só como Fred, mas também como Diógenes Chaves e Pedro Osmar – só para constar!
Então Fred passou pelo Diário da Borborema - Campina Grande, Oficina Literária e Aguardente Rio de Janeiro, revista Íris-Foto Cine Som e Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro, entre outros tantos.
Polêmico, vocês saberão porque ao ler a entrevista, Svendsen é daqueles artistas paraibanos que sempre está provocando algum tido de reflexão não apenas em torno de cânones estéticos, mas também de tabu mercadológicos e conceituais da arte contemporânea.

CALINA BISPO. Você me disse ao telefone que as artes visuais na Paraíba estão passando pelo seu pior momento. O que leva você a fazer essa afirmação?
FRED SVENDSEN. As artes plásticas da Paraíba sempre foram acostumadas a ser, senão a maior, mas uma das áreas das artes mais respeitadas da Paraíba, e mais representativa. Só que de uns 8 anos para cá, esta relegada a último plano.

CB. O que caracteriza as artes visuais hoje na Paraíba?
FS. Nós somos um dos Estados mais respeitado no país, em termos de artes plásticas. Desde os anos 60, as artes plásticas da Paraíba são conhecidas nacionalmente, como uma das melhores artes do Brasil. Porém, nós estamos na pior fase de nossa história, mas a culpa é nossa mesmo, porque cada artista se afastou um do outro, pelos egos não poderem conviver.

CB. A reflexão gira em torno de que agora?
FS. Eu acho que gira em torno do artista mais importante do Brasil, que é e sempre será nosso PEDRO AMÉRICO daqui da cidade de Areia.

CB. Então, quais reflexões você propõe?
FS. Olha temos uma universidade, que não nos serve, no mês passado (setembro/2007) fiz uma palestra na sala de um professor amigo meu e os alunos ficaram tão impressionados com minha presença, de tanto ouvir falar em mim e no meu trabalho, que no final da palestra todos me pediram autógrafo, como se eu fosse Roberto Carlos, isto só acontece porque a UFPB está muito distante de nós.

CB. O meio influencia os artistas atuais?
FS. Sim, mas nós não temos meio, nós temos é um amontoado de artistas trabalhando individualmente.

CB. Em algumas entrevistas que li sua, você sempre acaba levantando alguma polêmica.
FS. Apenas não gostaria, de ver trabalhos de artistas paraibanos sendo analisados sem uma prévia permissão, e eu estou vendo a hora chegar no meu, e isto não permito, pois quem está fazendo isto, não tem condições para tal.

CB. Qual o ponto nevrálgico das artes paraibanas hoje?
FS. É a disparidade dos artistas, é fazer com que a arte da Paraíba desapareça.

CB. Cursos de história da arte e academia formam público e artista, ou são apenas transmissores de idéias recorrentes e esgotadas?
FS. Recorrente, e esgotadas, é isso mesmo! As pessoas que estão preparando estes jovens em sua maioria foram formadas neste mesmo sistema, falho.

CB. O que já se esgotou na arte paraibana e que não precisa ser recorrente?
FS. O que esgotou foi a idéia de que a Paraíba, era um Estado fora do Brasil e do mundo. Hoje se sabe que aqui se tem acesso a tudo do mundo, e a Paraíba hoje, é mais conectada, com Londres e Berlim do que com o sul maravilha. É muito comum hoje o paraibano passar pelo sul voando, para Paris, Berlim, E.U.A, Portugal, enfim, para toda Europa.

CB. É possível encontrar traços da sociedade na expressão dos artistas visuais?
FS. Nós nunca tivemos uma arte nordestina, sempre fizemos uma arte cosmopolita, e contemporânea, portanto nunca identifiquei traços da sociedade local no nosso trabalho.

CB. Porque tanta variação terminológica para identificar um artista (plásticos, visuais, gráficos...contemporâneos) ?
FS. Artista, é só um, o que ele desenvolve é que acaba caindo nas terminologias dos que não sabem fazer nada. Estas pessoas foram inventadas para também inventar termos novos.

CB. Na entrevista de Sérgio Lucena à Dyógenes Chaves no Correio das Artes de setembro, Lucena afirma que o artista contemporâneo se encontra em pobre condição ao viver em função do desejo de ser útil e engajado no sistema produtivo, além do desejoso de ser consumido. Você concorda com essa conclusão negativa do artista atual?
FS. Eu não vejo como uma conclusão negativa e sim romântica. Nós não podemos mais neste mundo de consumismo, ainda estar pensando romanticamente. Todo artista moderno hoje quando termina seu trabalho só pensa numa coisa: transformar sua arte e seu trabalho em dinheiro para viver, e manter sua obra.

CB. O artista e sua obra devem ser engajados?
FS. Hoje não, a política esculhambou com tudo, hoje o artista engajado, se não tiver cuidado, vira panfletário.

CB. A arte engajada é necessária?
FS. Não. O que a arte engajada estaria defendendo, neste mundo de lama?

CB. Como se dá, hoje, na Paraíba e no Brasil, esta relação entre as artes visuais e o público consumidor – o colecionador (ou a ausência dele)?
FS. Nós temos a melhor relação possível com o público, consumidor e colecionador. Basta ver que as galerias da cidade não criaram um público, mas, os artistas sim. Dependendo do artista, a mostra dele leva uma multidão na abertura como a minha, por exemplo.

CB. A relação Instituição – Acervo – Artista. Que mecanismos são encontrados, ou não, nessa relação institucional e mercadológica?
FS. Olha não é de hoje que sabemos que o Estado é riquíssimo em acervo dos seus artistas, o que não temos é lugar para abrigar este bem material e artístico.

CB. Mecanismos e características especificas à parte, você acredita que há uma ausência de movimentos expressivos e genuinamente brasileiros nas artes plásticas de hoje?
FS. Não. Hoje o Brasil está cheio de movimentos, as artes plásticas foi quem se afastou da mídia, por ser elitista, e se achar assim, e talvez por este motivo você está cansado de ver as televisões abertas do País, dá 2 horas de programa para uma mulher fazer um bolo, e as artes plásticas não tem nem 30 segundos em mais nenhum veículo de comunicação nacional.

CB. Vanguarda brasileira?
FS. A vanguarda brasileira hoje é confundida com arte contemporânea, que também os que cantam e decantam este termo não sabe nem o que é que esta falando.

CB. De que forma os artistas contemporâneos estão se relacionando com sua obra? (contemporâneos no sentido daqueles que estão em produção constante e não como uma característica de uma expressão alusiva ao movimento proposto por Duchamp).
FS. Não se pode dissociar o artista nunca de sua obra, ele sempre será intrínseco a ela.
O que é arte conceitual? Toda arte traz um conceito, não pode existir sem o mesmo.

CB. Porque a arte conceitual é tão distante do público?
FS. Porque muitas vezes a arte conceitual não emociona ninguém, Quem emociona mais, uma obra de Goya, ou um Penico enferrujado?

CB. No contexto obra-público, a obra tem por obrigação, procurar se comunicar com o público?
FS. Não! Não podemos tirar a capacidade das pessoa usar seu raciocínio para interpretar uma obra de arte como ele quer e entende, cada um tem sua leitura, e a minha leitura não interessa a ninguém, e a minha será sempre diferente dos demais.

CB. É preciso que a obra se torne auto-sustentável do ponto de vista conceitual?
FS. Não, não, não! A arte é feita sobre um conceito, mas se ela precisasse do conceito para sobreviver, como ficaria todas as obras de arte que foram achadas nas tumbas dos grandes Faraós? Tutankamon não tinha consciência de que estava fazendo arte, mas sabia que estava fazendo um trabalho duradouro, e como um trabalho duradouro, ela sabia que um dia isto seria arte.

CB. Quanto ao autor, ele é necessário apenas durante o processo de produção? Será que depois de concluída a obra existe por si mesma?
FS. Toda obra tem um papel a cumprir, quando o artista termina a obra, ele morre para existir um produto, e aquele produto é comerciável como qualquer produto, gosto muito quando chega uma pessoa para mim e me fala que pegou um trabalho meu e vendeu para consertar a casa, ou o carro, é a prova que meu trabalho hoje é uma moeda.

Nenhum comentário: