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domingo, outubro 17, 2010

TEXTO DO ARTISTA PLÁSTICO ALMANDRADE, ARQUITETO E CRÍTICO DE ARTE.

----------texto do artista plástico Almandrade publicado no suplemento culturaldo jornal A TARDE , salvador 29/11/2008as reflexões sevem para a atual bienalA BIENAL DE SÃO PAULO E O VAZIO DA ARTE CONTEMPORÂNEA


Depois que o entretenimento passou a ser um requisito de fácilutilização da arte contemporânea mais difundida, o olhar foisurpreendido pela ausência de raciocínio. A 28ª Bienal de Arte de SãoPaulo está vazia de obras e idéias. Difícil até de fotografar comoconstata o fotógrafo Thomas Milz ao fazer uma viagem com sua câmarafotográfica no prédio projetado por Oscar Niemeyer e terminouregistrando a euforia e a disputa do público para escorregar notobogã, instalado nas dependências do prédio. Uma obra de arte? Umadiversão? Pouco importa. Fazemos parte de uma civilização sem tempopara se dedicar ao pensamento, irremediavelmente contaminada pelacarência de lazer. Uma cultura do efêmero.Para o público viciado no espetáculo do consumo, visitar a 28ª Bienalé mais uma diversão, um lugar do flerte e da ociosidade, um ponto deencontro para se falar de recessão, da crise financeira global, docarro novo, de tudo, menos de arte. As bienais de arte perderam acredibilidade, há muito tempo. Nessa mostra a arte é um adjetivosubstituível na frase. O que interessa é a ilusão da praça protegidaque não existe mais na cidade. Destruída de seus valores e funções, acidade é selvagem, recuperar a convivência com o outro, com odesconhecido, o espaço social, é um desafio e uma necessidade, mas nãoé a função principal da arte.A obra de arte já não é mais o atrativo do espetáculo, diante daimportância exacerbada do patrocinador e do curador. O artista passaquase despercebido e a obra é um simulacro. O marketing do produto émais importante que o próprio produto.A idéia de arte, que vem desde a renascença como saber autônomo, foisubstituída por mais um produto de consumo, condicionado à indústriada moda e aos agentes externos que ditam as regras do circuito dearte. O público geralmente consome qualquer coisa. Na condiçãocontemporânea de articulação social, a arte foi reduzida a acessório,como mostra esta bienal, de aproximação das pessoas com a cidade. Umacidade da especulação imobiliária e da economia do metro quadrado, comuma arquitetura sem poesia, esvaziada de sentido, ameaçada por todosos tipos de violências e medos. Medo até de consumir o que não estána moda. Uma cidade destruída de valores, deserta e entulhada deimagens.Diante dos pilotis do prédio de Oscar Niemeyer, observamos aperspectiva do espaço celebrado pela fotografia, uma pergunta ou umadúvida: Será que esta bienal quer estimular um questionamento sobre ovazio da arte e da vida moderna de uma civilização utilitária efrívola? Não sabemos ao certo. A obra do arquiteto é que ficouvisível. Um monumento ao vazio para reverenciar ou ironizar aracionalidade e a objetividade da arquitetura moderna.O olhar atendo do fotografo testemunha a relação do espectador com asolenidade do espaço, a indiferença com a arte. A sensação era a mesmade estar num shopping center. Mesmo quando avistamos manifestações quea curadoria e o contexto determinaram como obra de arte, nãoexperimentamos nenhum estado de desejo, o olhar permanece alheio aoque ver. Será que estamos em crise? Do consumo de arte à relaçãoamorosa não sabemos mais onde colocar o desejo. As responsabilidadessão negociadas, trocadas. A ética deixada de lado. No meio de arte,quem decide o Ministério da Cultura ou a Petrobras? Por exemplo. Paraque serve uma mostra de arte desse porte? É uma boa pergunta depois deuma visita à 28ª Bienal de São Paulo.Almandrade artista plástico, poeta e arquiteto

Um comentário:

Marcantonio disse...

Muito bom. Ele é um crítico-artista muito coerente em relação a um oportunismo vigente no meio da arte contemporânea.

Abraço.