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segunda-feira, agosto 03, 2009

REVISTA CONTINENTE


Carnaval grotesco e rude


Escrito por Marco Polo

Para o poeta e crítico de artes plásticas Walmir Ayala, Fred Svendsen nos coloca frente a frente com a beleza do terror. E sai rastreando a origem dos seres sinistros do pintor paraibano nas carrancas do Rio São Francisco, nas máscaras dos pajés, nas cerâmicas tatuadas. É que os quadros de Svendsen são habitados por estranhos rostos de olhos miúdos, com sorrisos enigmáticos, em postura hierática, juntando-se a monstros que passeiam por paisagens cósmicas ou cidades futuristas. Parecem ter saído de filmes de ficção científica que trouxeram do espaço (ou de mundos subterrâneos) uma raça de demônios que não dorme nunca. É ele mesmo quem diz: “Deixo sempre acordado um quadro enquanto durmo”. Um mundo inquietante nos espreita da pele das suas telas.Já segundo outro crítico, Alberto Beuttenmüler, para além de qualquer referência regional, a pintura de Svendsen assume um caráter metafísico, ontológico. Seus personagens viriam, talvez, do inconsciente. Para Beuttenmüler, há, no pintor, “um sonho imanente de fazer sua linguagem caminhar pelos desígnios da humanidade, com seus fantasmas, pesadelos, monstros, bestas-feras, mostrando-nos quanto tempo estamos perdendo com discussões estéreis”. Como vários artistas nordestinos, periféricos ao eixo Rio-São Paulo, Fred Svendsen ainda acredita na figura e na pintura; no uso do pincel e das tintas sobre a tela, no gesto preciso da mão e na sabedoria do olho. E parece pintar, obsessivamente, o mesmo quadro de muitas maneiras, pois, embora sua expressão mude um pouco nos desenhos e nas esculturas em papel machê, permanece sempre, em todas as suas obras, a figuração da beleza daquele carnaval grotesco e rude, a que se refere Ayala.Um desfile de personagens perante os quais o espectador sofre uma esquizofrênica sensação de identificação e estranhamento, como quem percebe no espelho um duplo, a projeção de um lado nosso que não estamos preparados para encarar.

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